Atualmente já não é passível de discussão que os objetos de utilização única são um problema gravíssimo com o qual ainda não conseguimos lidar. A reciclagem e a reutilização tentam dar resposta, mas infelizmente, pela natureza dos materiais utilizados na confeção destes produtos, as respostas são ainda insuficientes para resolver o problema.
Nesta série, Bordalo II utiliza alguns desses objetos que tão bem conhecemos: pneus, beatas, máscaras de proteção, latas, garrafas de plástico. Assim enumerados, representam apenas uma classe de “coisas”, mas apresentados em repetição num todo organizado tornam-se uma parte fundamental desse todo, tornam-se um pixel dessa imagem.
Quando nos aproximamos distinguimos com facilidade cada elemento que está diante dos nossos olhos, mas se nos afastarmos, pela repetição exaustiva e organizada desse elemento, surge algo de novo.
Cada peça aborda uma problemática ambiental diferente, quer pelo material a que recorre, quer pela imagem que forma.
Durante a pandemia e até há bem pouco tempo, vimos ser introduzidos nas nossa vidas e rotinas objetos descartáveis que fomos obrigados a utilizar diariamente – máscaras, testes rápidos, luvas proteção, entre outros.
A utilização massiva destes objetos teve e tem naturalmente consequências negativas graves para o ambiente, quer pela sua produção acelerada quer pela falta de soluções para a sua recolha e tratamento. As máscaras foram uma solução, mas nunca deixaram de ser também um novo problema ambiental.
Por outro lado, numa realidade em que todos usávamos máscaras, perderam-se as expressões faciais, o acesso mais imediato às emoções dos outros. Os locais públicos deixaram de ter o público e as ruas pareciam não ter propósito.
As mesmas ruas em que agora, com o regresso das pessoas encontramos imensas máscaras abandonadas e espalhadas um pouco por todo o lado, como uma memória latente de um período negro.